É o funcionário mais antigo da casa e sabe de cor a data precisa de quando veio trabalhar para a Tavi. Foi a 28 de outubro de 1975. Tinha apenas 16 anos e acabava de chegar de Santa Marta de Penaguião (Vila Real), de onde é originário. Frequentou a escola agrícola na Quinta do Rodo (Régua), mas não tendo possibilidade de prosseguir os estudos em Coimbra, Santarém ou Santo Tirso, veio desaguar à Foz do Porto, por indicação de uns primos que viviam perto da Tavi, na Rua do Farol.
Era empregado interno e, tal como explica, tinha “comida, dormida e roupa lavada”. Vivia no primeiro andar da confeitaria: “Do lado da praia, havia dois quartos, uma casa de banho e uma salinha e, do lado da Rua Sra. da Luz, existia um escritório e zona de armazém”. O espaço era partilhado a três, com mais dois colegas pasteleiros. Um deles, de seu nome Manuel, entrou para a Tavi 15 dias depois dele e continua, tal como o Sr. Arnaldo, a fazer parte da história desta casa quase centenária.
Sempre trabalhou ao balcão e recorda com saudade os tempos em que um café custava 15 tostões. Não havia dia em que não tivesse que ir a casa do chamado cliente do mês levar 100 ou 200 gramas de fiambre, um quarto de queijo, leite, café avulso, moído ou a granel e, claro, a pastelaria da casa, já afamada na altura.
Aos clientes antigos conhece-os a todos pelo nome. E já passaram por ele algumas gerações. “A menina Madalena vem agora com a filha, mas ainda me lembro do tempo em que a mãe a trazia ainda na barriga”, conta emocionado.
No tempo em que o elétrico passava mesmo em frente à Tavi, havia clientes que saíam para fazer as compras e regressavam no mesmo transporte ou no 17, o autocarro que seguia a direção Castelo do Queijo/Batalha. “O empregado do Bela Cruz vinha de elétrico e saía mesmo aqui à porta. Eu já tinha os croissants prontos - levava diariamente entre 30 a 35 -, dava duas de letra enquanto fumava um cigarro e regressava pelo mesmo meio”.
Muitas outras histórias são recordadas, como a de uma máquina de bater o pão de ló sui generis, engendrada por um mecânico conhecido da casa, toda ela em madeira e sincronizada pela caixa de velocidades de um Austin, com três velocidades, e adaptada para trabalhar a eletricidade. “Não tinha embraiagem nem nada! Tinha o sem-fim, onde entravam quatro pás em cobre, que batiam o pão de ló durante meia-hora.”
Mas a história da casa continua a fazer-se. “Temos um cliente que tem um filho nos Estados Unidos, a quem todos os anos envia um bolo-rei Tavi pelo Natal. Traz as caixas e os impressos e nós embalamos, a vácuo, os bolos-rei. Sou mesmo eu que vou ao correio tratar do assunto. Fica mais caro o despacho que a própria encomenda mas não passa um ano sem que o nosso bolo-rei vá matar as saudades de Portugal além fronteiras.”
Os produtos da confeitaria que mais aprecia são as glórias e os pastéis de nata, mas também gosta muito dos pastéis de carne. Apesar do histórico ligado à pastelaria, diz não ter mão para os doces. Já cozinhar é diferente: “Nas festas, quem tempera o cabrito e faz o arrozinho de forno sou eu, à moda da minha mãe”.
A caminho dos 50 anos de casa, o Sr. Arnaldo atravessou agora a rua para tomar conta da caixa da Tavi Padaria, e é lá que continua a receber os mesmos e os novos clientes. E gosta de vir todos os dias trabalhar para a Foz, que já é a sua casa.